Já agora, ouvi sussurros, alguém, que disse a alguém, que disse a alguém, que depois disse a outro alguém que me disse a mim, que - olha que alguém me veio dizer que tu não aguentas lá dois meses sequer.
Bem, dois meses já passaram.
Está tudo bem, o bem é uma coisa estranha de ser definida, nunca está tudo bem a toda a hora em seja que sítio for, e não ser o mesmo ritmo igual aos últimos anos, tudo a que estava habituada, também alberga uma série de outros componentes que vão muito para além da beleza do que é novo para pessoas curiosas.
Coisas que precisam de ser aprendidas. pensamentos que tem de ser assumidos, balanços entre o que manter por perto (do coração) e o que deixar para trás, por terras lusas, que tem de ser ponderados, gerir as línguas que trocam em meros segundos numa aula de espanhol em que se fala português com o segundo ano que está de um lado e se responde a uma pergunta da americana que está do outro lado em inglês, e com isto não me engasgar toda nesta mistura e chegar aqui e não cometer uma série de erros ortográficos (cada vez é mais complicado, garanto), partilhar até certo ponto e depois ter de aceitar que se deixarmos salame de chocolate no congelador da sala comum quando chegarmos lá não vai haver sobras o que não é muito bonito mas é assim e pronto, concluir que isso de querer experimentar o mundo todo é uma coisa que tem piada até estarmos ridiculamente cansados e depois se calhar vamos antes baldar-nos à sessão de global affairs para ir trepar a um telhado e ficar lá a olhar para as montanhas e saborear a doçura que isso tem, ganhar a fantástica habilidade de conseguir ir para o meu cantinho dormir mesmo quando está a haver uma tea party no pátio da nossa casa e durante os blocos livres entre uma aula e outra, entender que a ideia de pobreza é vezes demais uma coisa ocidental que só serve para provocar um sentimento neo-colonialista de que vamos salvar pessoas mas que se há alguma comida e um abrigo pela estação das chuvas então está tudo bem e se calhar (muito provavelmente) quem nos vai "salvar" são esses mesmos, ignorar o que a expressão "casa" significa por isso ser agora tão mais relativo, declarar a subjectividade de tudo, não só de mesmo muita coisa que dizia depender do ponto de vista mas de tudo o que existe tanto de material como de abstracto. E havia tanto mais que podia dizer aqui, tornar-se-ia se é que não se tornou já, exaustivo por isso paramos neste ponto apenas.
Sim, estou aqui há "apenas" dois meses.
E vemo-nos em Dezembro, então, por um bocadinho, que depois logo volto.