29.8.11

Continuação da nota pessoal do post anterior

Mesmo que nunca seja possível usar a máquina de secar que está sempre ocupada durante esta altura e mesmo que a roupa esteja perto de começar a cheirar mal por nunca mais secar, não é uma boa ideia pendurá-la na ventoinha. Ao que parece o facto de uma coisa ser de metal e da outra estar molhada faz com que esta segunda fica marcada com ferrugem (se calhar devia ter pensado nisto antes.) Tenho cá um jeitinho para estas coisas.




Fim-de-semana ou “A razão de eu achar que isto é tudo gente doida” (isso é bom)


Sábado começou com uma sessão com o staff para conhecermos o pessoal que trabalha aqui porque, afinal, na sua grande maioria, também eles vivem aqui no campus e estão longe das suas famílias que são de outras partes da Índia. À tarde visitámos uma vila e as suas escolas nos arredores no contexto do programa Akshara, uma iniciativa com o apoio MUWCI que pretende fornecer igualdade de acesso às oportunidades, ajudando na educação de localidades aqui próximas.

As noites de Sábado e Domingo foram marcadas com os espectáculos dos primeiros e dos segundos anos respectivamente. O esquema era o seguinte: quem faz o espectáculo escolhe o código de vestuário dos espectadores. Nós escolhemos para eles sexy circus e eles escolheram para nós horny vegetables (eu fui um pimento vermelho...). O que o Caner, segundo ano da Turquia, tem a dizer sobre isto é: “One way or another, we allways find ourselves a way of dressing up as whores”. 

Conseguiram convencer-nos que o nosso show foi muito bom (eu fui a apresentadora, yey :P) e que o deles iria de certo ficar atrás mas de qualquer modo a acabou por ser muito melhor porque para além deles terem tido uma semana a mais para preparar, já se conhecerem todos, vá, há certas coisas que nós nunca teríamos pensado. 
Exemplo?
Na foto, melhor actuação de sempre, uma música apressada e 10 pessoas que passam todas por uma mesa, lavam todas os dentes com a escova que lá estava usando sempre a mesma água que está dentro de um copo (para a qual cospem depois de lavarem), alguns acrescentando a essa água outras coisas interessantes e usando a escova para as unhas ou axilas. Por favor, não me venham falar de criatividade depois disto que não resulta. Foi nojento? Muito mesmo. Mas foi brutal, também, isso sim.


Agora, nestes dois dias tivemos duas actividades que definem bem o nível de alguma coisa estranha que deve pairar no ar indiano e afectar cérebros (é provável que paire no ar de outros UWCs também).
Sábado à noite, depois do nosso show – AQ Sliding (academic quadrangle, edíficio onde temos aulas). O chão do AQ fica inundado com as monções. Acho que a foto expressa tudo.


Domingo acordar cedo para quê? Para nos irmos encher de lama! Yey! Mud games, uma tradição da orientation week que é bastante mais hardcore que o baptismo dos estudantes na fonte. Passo 1: saltar na relva até ser tudo lama a bem escorregadio. Passo 2: Quem está limpo vai para o chão. Passo 3: Correr para os chuveiros (o facto de haver 1 por cada 4 ou 5 pessoas não traz problemas excepto nestas situações, principalmente se numa das wadas deixar de haver água. Acabamos por ir um grupo de raparigas tomar banho (vestidas) nos chuveiros da piscina, ao ar livre). (Edgar, a sério, este blog tenta ser digno, eu sei o que é que estás a pensar mas a minha família lê isto, da próxima vez que comentares alguma coisa podes satisfazer os requisitos mínimos de decência? xD)

Entretanto começaram hoje as aulas e as actividades triveni.

Nota pessoal: Se as roupas estão cheias de lama e não sai na primeira lavagem, para a próxima não seguir o conselho do indiano que acha que se eu tiver que lavar outra vez se for no modo turbo vai resultar. Não vai. As coisas continuaram sujas de lama a diferença foi que o modo turbo fez também sair alguma tinta das minhas calças pretas. E a modos que manchar outras coisas. Nada de grave, simplesmente não muito simpático quando se disse previamente às colegas de quarto que não fazia diferença para mim por também a roupa delas a lavar. Bem, ninguém se importou muito, até teve a sua piada. (o tipo de piada que não é boa o suficiente para se repetir...)


Quase a ser afogada pela chuva das monções mas ainda viva,
Joana  : D

26.8.11





Quarta-feira: jantar especial (pizza!) dos anos 80 e concerto de sitar e tabla depois.


Quinta-feira: Pune praticamente a correr e depois buddy ball, ou seja, tinha nos sido atribuído previamente um par do segundo ano que está no mesmo grupo de tutor que nós e tínhamos de ir vestidos do mesmo modo, no meu caso, árabe, o que fez com que nessa noite ficasse sem lençol pois estava sempre a cair e sujou-se com lama.





-Traz me um Mc chicken de Pune.
-Ahah, bela piada, é só desses que vocês tem.
-Não, também temos Mc Fish.

(Aquele Mc Chicken acabou por ser o meu jantar por termos chegado de Pune tarde demais para jantar na caf.)



Sexta-feira: manhã passada a tratar de burocracias da Vodafone. Acho que há uma ideia de que aqui, por ser a Índia, não existem muitos regulamentos e regras a seguir. Sim, isso aplica-se a muitas áreas mas a obter um cartão SIM não é uma delas visto que é preciso preencher dois formulários gigantes e entregar fotos e fotocópias do passaporte. Tarde a andar pela montanha. Nota pessoal: quando as opções são chinelos, umas sapatilhas que fazem o calcanhar ficar em ferida ou allstars brancas e muito rotas, para andar por esses caminhos na altura das monções (monções = lama) mais vale ir descalça. (Ajudou o facto dos segundos anos que foram connosco terem perdido o trilho, só tornou as coisas mais interessantes.)

24.8.11


Os segundos anos são importantes para nos ajudar com as coisas mais diversas, seja para nos indicar o caminho, explicar como algo funciona, sermos conhecidos (como no primeiro dia, em que eu era a rico’s first year) ou instalarem-nos um antivírus decente e uma impressora mesmo estando o computador em português. Mais importante que isso, dão nos conselhos. Podem já ter prestado algum tipo de auxílio nas mais diversas situações mas o facto de mais irrefutável e extrema importância que me ensinaram foi:

Quando alguma coisa que está no refeitório diz masala pelo meio é condimentada de uma forma tradicional indiana e é (muito) picante.


Entretanto, coisas diferentes. Tivemos esclarecimentos e uma espécie de “feira” de disciplinas e de triveni (nome dado ao conjunto das actividades extracurriculares). Se em relação às primeiras eu mantive as opções originais, em relação às segundas surgiu um leque imenso de onde será difícil escolher as que melhor encaixam com os meus horários e com o que eu quero. Á parte disso e de papeladas a tratar, a nossa semana de orientação teve direito também a uma série de jogos diferentes que variam entre jogos que são transversais aos uwc a jogos tradicionais indianos como o kabaddi, a chocolate quente e bolachas que só duram estes sete dias e pelos quais os segundos anos disseram ter esperado um ano para voltar a ter, e, entre mais coisas. Os próximos três dias contam com excursões e são marcados com a preparação para o 1st year’s show.





Quem comentar em anónimo por favor assine e peço desculpa se o comentário não aparecer que o blogger por vezes tem ataques de alguma coisa que não dá para entender bem e não publica os comentários mas pronto.
 Rita, bastante, até agora que acalmou e finalmente estamos a ver o que são as monções que tinham dado lugar a uns dias de sol aquando da nossa chegada.
Edgar, excelente sugestão, acredita que já estivemos mais longe.
Clara, uau, ainda estou a postar coisas, terei tendências a ter uma vida social um bocado diferente (olha que é capaz) ou simplesmente estou a fazer um bom trabalho? Seja a primeira ou a segunda, será que eu tenho um prémio por deixar um testemunho tão interessante (cof cof) à apuwc?   

21.8.11


 Sábado à noite jogámos cage football o que basicamente é futebol num campo de ténis sem rede no qual as balizas são um quadrado amarelo e pequeno na base do cesto de basquete e temos música ao mesmo tempo (fazia lembrar um jogo num dos campos do fifa street xD).


Ao que parece há um deus hindu que faz anos hoje e que quando era criança gostava muito de manteiga e para ele não a devorar toda a mãe dele pendurava-a num pote muito alto, assim, para a alcançar ele juntava-se com os amigos formando uma pirâmide humana para conseguir chegar ao dito pote e é do mesmo modo que se celebra o seu aniversário. 



O director da escola deu nos as boas vindas e foi nos atribuído um tutor que será de certo modo responsável por nós e que é mais famoso é pela sua função de ocasionalmente nos alimentar, a mim calhou-me uma mulher indiana que não sei que disciplina ensina mas cujos bolinhos eram de facto bastante bons :p Para a semana começa já o horário a ser mais preenchido com todas as actividades da orientação. 




Tivemos também um jantar latino (América do sul e península ibérica) em casa do professor de espanhol e consta que isso é práctica comum o que cai sempre bem para desenjoar da comida de refeitório indiano (que vá, não é assim tão má)

Com todos os novos alunos que já chegaram já tenho companheiras de quarto sendo que são do Brasil (por muito incomum que seja ter pessoas da mesma língua no mesmo quarto ou até wada), Noruega e Coreia do Sul. Díficil mesmo é saber dizer os nomes de toda a gente e associar caras a conjuntos de sons que por vezes mais parecem onomatopeias juntados aleatoriamente (principalmente os nomes indianos, são lindos, esses).


19.8.11

Welcome home


Arrumações (até 10 minutos antes de sair de casa)


Lisboa a acordar


Burocracias, voo Munique-Mumbai


Desarrumações em progresso


E isto em 4 fotografias, de quarto para quarto, passando por dois voos, até parece que foi rápido. Entretanto, em dois dias dormi 3 horas com todas as viagens e esperas e caminhos que pareciam não acabar. O meu quarto é na wada (agrupamento de casas) 3 e ainda é só meu, tendo em conta que fui das primeiras primeiros anos a chegar e que ao contrário do que é comum, somos todas primeiros anos na nossa casinha de 8 raparigas. Os mosquitos e afins não são diferentes dos portugueses e por isso também gostam de mim o que é maravilhoso, claro. Já consegui entrar no quarto errado uma vez e acho que quando voltar para lá vou me perder mas não há problema, quando os sítios são como este até é bom perdermo-nos, acabamos por vaguear um pouco mais por um campus lindo. Nos próximos 2 dias chegams os restantes alunos do meu ano, até agora somos só eu, um rapaz do Lesoto e outro da Maurícia e uma rapariga do Nepal. Eu escrevia o nome deles mas também não faço a mínima ideia de como se escreve, por isso... :P

Está tudo bem tirando a sensação de ser um zombie por causa das poucas horas de sono e do jetlag. Acho que tenho mesmo de ir dormir (apesar de serem aqui 11:30... mas pronto, boa noite xD)

10.8.11

Faltam 7 dias e 11 horas para sair de casa. Depois, aí, faltarão 21 horas para chegar. É estranha a sensação, uma espécie de montanha russa que começa muito antes de o carro arrancar ou o avião levantar voo. Tudo parece mover-se extremamente rápido mas ao ponto de alguém, os senhores que nunca vemos, que editam o filme no final, terem decidido que era melhor se fosse em slow motion. Então aqui estamos, numa confusão entre velocidade e quase inércia, entusiasmo e nervos. Como no dia 11 de Março, assim que soube a notícia de que ia, não tenho muitas palavras. 10 minutos depois de me ter dito, liguei de volta à minha mãe para perguntar “Então, mas… a sério?”. Cada vez menos essa pergunta se faz na minha cabeça, mas continua a haver um pedacinho de mim que se agita com ela, ainda incrédulo. Enquanto isso, o outro pedaço que progressivamente se tem apoderado do mais pequeno tem se vindo a despedir das pessoas que foram importantes até agora e começou ontem a por coisas de parte, para serem levadas comigo. 

Entretanto, tenta-se contrariar a tendência de passar muito tempo em frente ao computador, principalmente estes últimos dias que vão ser bem aproveitados e provavelmente da próxima vez que escrever já estarei aqui:



"Mas tu enganaste-nos a todos! Aposto que não foi este o vídeo que mostraste ao teu pai para ele te deixar ir. Isto não é uma escola, é uma colónia de férias, Joana."