13.8.12

Ano 2 – Preâmbulos e chegadas


Uma semana antes do tempo, para ultrapassar o jet lag, para não chegar à Índia e começar as aulas no dia seguinte, voo para Bangalore para passar uns dias com a Tanvi e depois seguir com ela para Norte, para                a nossa montanha.
Primeiros voos com a emirates, escala no Dubai. Notas tomadas: eles dão muita comida… E são a primeira companhia aérea onde vi pensos higiénicos nas casas de banho, e isso é engraçado, tem de admitir. 
Estando muito cansados porque não são pessoas de dormir no ar (afinal eles tem aqueles ecrãs interactivos com filmes para alguma coisa, e talvez fosse melhor começar a ler aquele livro de inglês que era suposto termos lido no verão) e depois quiserem dormir no aeroporto de escala (onde tem de passar 7 horas, maravilhoso, não?) e manter as vossas coisas seguras, então só tenho uma coisa a dizer: óculos escuros. Com reflexo. Ninguém vai perceber se estão a dormir ou se estão a “descansar”, logo, ninguém se vai aproximar de vocês e das vossas coisas. A sério, isto resulta. Quanto mais fluorescentes forem os óculos melhor, vai na volta enquanto estão acordados divertem-se a olhar para a cara das pessoas a olharem para vocês.

Chegada a Bangalore (ou Bengaluru, poque aqui não deve haver terra nenhuma com um só nome), entrei no país com visto, sim, mas sem o registo do ano passado, o que aparentemente é ilegal mas não tive de subornar ninguém para fazer isso portanto não sei o quão ilegal será realmente. Passeamos pela cidade, passei uma noite acordada (onde fui produtiva o suficiente para escrever 2000 palavras filosóficas que era suposto ter escrito durante as férias) e um dia a dormir, recuperar horários, fomos pondo a conversa em dia. A Tanvi contou-me de uma estrela de bollywood que já era consideravelmente famosa mas que subiu na carreira depois de dormir com o Ronaldo. Fomos vendo os jogos olímpicos (sim, a Tanvi é aquela pessoa que vivia na minha casa e que corria uma quantidade de km impressionável diária) e o pai dela não estava porque comprou um carro novo e teve de ir a um templo para o abençoar. Ultimas visitas, como também eu já tinha tido, tudo isso, e partimos (no carro novo, ainda com os seus plásticos protectores todos o que, tendo em conta as tradições nacionais, vão ficar lá eternamente).

Vídeoclipes de Bollywood sobre aventuras europeias

Primeira noite, depois de qualquer coisa como 8 horas de carro, numa estação da força aérea (o pai da Tanvi pertence a esse voador ramo militar). Mais uma vez, não é suposto estar lá alguém portugês ou de outra nação qualquer sem algum tipo de autorização superior, mas combinamos que eu não saia de casa para ninguém descobrir e resultou.  Seguimos para Mahabalashwer no dia seguinte, a terra que em março de há algumas décadas inspirou os Beatles na sua canção Strawberry Fields Foreves. Sem morangos, com compotas e preservas de morango, com as plantações, mas mais que isso, só chuva. Tanta chuva que mudámos os planos e em vez de ficarmos duas noites ficamos apenas uma e decidimos ir para muwci na manhã seguinte.

Em Mahabaleshwar: Tanvi the tree hugger


Chegamos a um campus ainda mais vazio que a sua metade de alunos que o vão tentar (mas falhar) encher nas duas semanas em que estamos sozinhos. Um campus mais uma vez pintado de um verde sem vergonha e de poças de água com habitantes que tentamos não pisar aquando da nossa passagem, verde outra vez, esta Índia que nunca para de virar de cores, Índia de metamorfose, borboletas (no estômago) constante. Há uma sombra dos nossos segundos anos em todos os cantos, ainda nos lembramos de tudo o que nos ensinaram, de como nos inspiraram, ainda não nos sentimos capazes de fazer isso ao novo ano que chegará demasiado cedo. As últimas palavras deles ainda estão connosco, um destino que nos deram, uma missão para nos ocuparmos enquanto tentamos adaptarmo-nos aos recém-chegados à nossa casa e não pensar nas saudades nos que aqui viviam antes.
“You have to be strong.”
“Mother fucking clown. Don’t waste your time here.”
“Our little actress.”
            “It’s ok, it’s going to be ok.”
            ...
    
                Os gatos de uma professora que já não está cá andam a vaguear-se por todo o lado. Os sacos que cá deixamos cheios de coisas tem um leve cheiro a mofo que ameaça tornar-se pior não havendo neste momento sala comum na wada 1 o que implica que tão pouco há máquina de lavar e secar. Remexendo nisso, encontramos muitas heranças dos nossos segundos anos, família. A minha roomie da Noruega, Ulrikke, que já viveu na mesa casa que eu mas não no mesmo quarto chegou no Sábado às 4 da manhã e começou a gritar e depois atirou-se para a minha cama. Entretanto, está tudo em obras porque um monte de instalações que era suposto estarem prontas antes de nós chegarmos não estão. Agora, deixar algum trabalho feito enquanto as coisas estão calmas e começar a preparar a orientation week da multidão que breve chega.

2 comentários:

  1. alguém chegou viva a casa ;)

    http://www.youtube.com/watch?v=J3jrWVp2L7U

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  2. Texto fantástico...impregnado de vivências que contagiam e dão vontadde de ir aí sentir a índia mas gostaria de continuar neste tom semi poético mas a Mariana diz que é contra tudo o que eu escrever...
    Beijos do tio Zé

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