20.3.12

quatro palavras em hindi

Mera naak laal hai


regra de medical clowns, os palhaços mais bonitos de todos, coisas misturadas com recordações das três informações que se partilham no nosso círculo de abertura "alguma coisa boa que aconteceu a semana passada", "como te estás a sentir" e "qual a cor da tua roupa interior", uma série de jogos, andar devagar, andar depressa, falar com ratos de peluche, alimentar toda a gente com cenouras e de uma memória pequenina e linda de estar com a Toni, italiana, num hospital em Paud e fazer uma criança rir logo depois de estar a chorar por levar uma injecção. 
Traduzindo isto, o meu nariz é vermelho.
:o)

15.3.12

Travel Weeeeeeeeeeeeeeeeeeek!



Data: 3 Março – 10 Março

Destino: Kerala (Kochin e Allapuzzha)

Lista de passageiras:

Jiya - Uma indiana de Mumbai ou Bombay ou seja o que for mas o que importa é que segundo ela não foram os portugueses que deram o nome à cidade que adora – aquela que tem alguns milhões de pessoas porque sim, tem de ser assim para ser o que é uma cidade a sério. As coisas que a fazem lembrar de casa são perder-se no meio de confusões e ouvir pessoas a gritar com os condutores de rickshaws. Não gosta do Gandhi mas acha que é melhor não falar disso muito alto num sítio publico, ainda queremos viver mais uns anos, afinal. Tem amigos paquistaneses. E tudo isto vem junto num pratinho de metro e meio chio de amor à pátria e gozo constante aos turistas branco que tira fotos às vacas e às criancinhas da rua.
               
Olga – Polaca do segundo ano que fala francês quando está chateada e quer reclamar e também fala alemão porque sim. Não come doces porque estamos na quaresma, mas se forem em forma líquida (como só todos os sumos que se vendem aqui e que tem imenso açúcar) já pode ser. Uma cultura europeia, daquela das pessoas cultas que vão a museus e que não vem filmes de Hollywood (só os que ganham Óscares ou algo com classe) e que trazem sempre na mala álcool em gel para desinfectar as mãos. Organização. O que a faz lembrar de casa é usar o cinto de segurança no jipe. É o tipo de rapariga que tem amigos com benefícios que nunca são mais que isso e que quase teve um orgasmo quando no McDonalds um turista com a mesma cor de pele dela e sozinho usou o guardanapo no colo coisa que, já agora, também um homem polaco faria.
                
Joana – Preencha aqui o que achar apropriado. Mas as outras duas acham que o meu livro de bolso de anedotas é hilariante e que é bastante estúpido não ter um cartão SIM indiano, porque posso morrer, ou coisa parecida, e se me estiver a afogar faz a diferença. E que eu estou demasiado relaxada perante isto tudo (mesmo que as coisas tenham acabado sempre como eu disse: mais ou menos a modos que bem.)



Dia e meio em Pune, parcialmente em casa de alunos de MUWCI que sabem uma quantidade significativa de piadas sádicas sobre crianças (como é que salvas um bebe de morrer afogado? Tiras o pé do balde.) e sobre o Hitler e judeus (que interessantemente também se podem aplicar a alguns “amigos” da Olga). E numa sala de cinema, com dois filmes que começavam com o hino (pelos vistos todos os cinemas são assim, há que manter o povo apaixonado) mas que não eram de bollywood (paz de espírito, o mundo continua bem enquanto não for obrigada a pagar para ir ver desses numa sala de cinema.) Descobri que pipocas caramelizadas fazem lembrar casa porque aqui são todas de coisas como sal, queijo, manteija, chili e uma série de masalas diferentes.

Dia e meio num comboio. Na verdade, se juntarmos a viagem de volta fazem três. Grande parte a dormir. Um portátil e vêem-se uns filmes. O vendedor de tchai ou café, mais a segunda dadas essas tendências no sul, sempre a passar com a voz robótica que lembra o vendedor das bolas de Berlim na praia. Mas aqui há mais: há o Biryani, as Samosas, as bebidas, as bolachas e as batatas fritas, entre mais duas ou três coisas que podem surgir misturadas com o indiano que nos vem acordar da sesta a perguntar se queremos almoço ou jantar. Horas de leitura, a paisagem lá fora e haverá de certo alguns loucos que acompanham na visita à área das casas de banho, entre compartimentos, vai-se de porta aberta a sentir o vento por uns momentos em que todo o universo parece caber nessa saída para o mundo fora da nossa enorme lata com carris. O engraçado é que fui chamando-me de Dianne, os bilhetes estavam registados assim mas com as normais mudanças de planos fui eu em vez dela. O plano era fingir que estava a dormir à passagem do fiscal e a Jiya tratava do resto visto que a reserva das três tinha sido feita conjuntamente. Viagem de ida, tudo bem, “a Dianne está a dormir e eu mostro os meus documentos” e passa-se. Viagem de volta “Elas estão a dormir” e ele quer ver os passaportes, a Jiya acorda a Olga, a Olga mostra o passaporte, a Jiya fala Hindi e eu continuo imperturbada naquele comboio, miraculosamente. Vim mais tarde a saber que o dialogo que ela teve foi qualquer coisa como “Ela não se está a sentir muito bem.” “O que se passa?” “É o estômago, pessoas brancas, sabe como é.” “Ah, esta bem.”

Efectuamos tentativas extremamente vãs de dar um passeio num barquinho a remos. A pessoa do meio, sangue luso, não ajudava a manter o balanço no meio de risos. Não é que as outras duas que estão metidas no assunto compreendessem muito bem as grandes leis da física de manejar barcos a remos. Alunos do IB e os seus textos gigantescos e falta de capacidade de remar, maldito seja esse IB bem como as suas 1000 palavras para cada disciplina que ficaram de ser escritas por essa semana.

Uma expedição privada no barco do sítio onde ficámos, os canais, os coqueiros, o céu, o vento, a pesca, os nadares, os pequenos barcos e os barcos casa tradicionais, as cobras de água, os peixes e as aves. E o senhor condutor a ensinar-nos a guiar para depois ir ali só fumar um cigarrinho e ir, à janela, indicando com a mão que é para a esquerda, esquerda, esquerda, ou ainda vamos parar à margem. 

Isto são coisas que se contam entre um milhão de outras mais que ficam por dizer pelo risco de isto se tornar (se não aconteceu ainda) demasiado extenso e aborrecido. E porque tenho certa de 2000 palavras para escrever até Domingo.

 Voltamos para um Campus bastante académico (auch, isto é uma escola, de facto) com o facebook censurado (problema resolvido com tecnologias às quais os chineses estão acostumados) e com metade das pessoas doentes por qualquer coisa que se passou durante esta semana como comidas estranhas ou diferenças de temperatura que aqui se mantém quente. Amanhã, depois de uma apresentação sobre Fernando Pessoa para a aula de filosofia, celebra-se o Holi, o festival da cor, o festival dos novos começos (uma verão mais arco-íris do atirar tinta em pó no festival do Ganesh) e Sábado damos um concerto em Pune.
E está tudo bem :)