20.10.11

It's times like these you learn to live again







Já agora, ouvi sussurros, alguém, que disse a alguém, que disse a alguém, que depois disse a outro alguém que me disse a mim, que - olha que alguém me veio dizer que tu não aguentas lá dois meses sequer.
Bem, dois meses já passaram.
Está tudo bem, o bem é uma coisa estranha de ser definida, nunca está tudo bem a toda a hora em seja que sítio for, e não ser o mesmo ritmo igual aos últimos anos, tudo a que estava habituada, também alberga uma série de outros componentes que vão muito para além da beleza do que é novo para pessoas curiosas.
Coisas que precisam de ser aprendidas. pensamentos que tem de ser assumidos, balanços entre o que manter por perto (do coração) e o que deixar para trás, por terras lusas, que tem de ser ponderados, gerir as línguas que trocam em meros segundos numa aula de espanhol em que se fala português com o segundo ano que está de um lado e se responde a uma pergunta da americana que está do outro lado em inglês, e com isto não me engasgar toda nesta mistura e chegar aqui e não cometer uma série de erros ortográficos (cada vez é mais complicado, garanto), partilhar até certo ponto e depois ter de aceitar que se deixarmos salame de chocolate no congelador da sala comum quando chegarmos lá não vai haver sobras o que não é muito bonito mas é assim e pronto, concluir que isso de querer experimentar o mundo todo é uma coisa que tem piada até estarmos ridiculamente cansados e depois se calhar vamos antes baldar-nos à sessão de global affairs para ir trepar a um telhado e ficar lá a olhar para as montanhas e saborear a doçura que isso tem, ganhar a fantástica habilidade de conseguir ir para o meu cantinho dormir mesmo quando está a haver uma tea party no pátio da nossa casa e durante os blocos livres entre uma aula e outra, entender que a ideia de pobreza é vezes demais uma coisa ocidental que só serve para provocar um sentimento neo-colonialista de que vamos salvar pessoas mas que se há alguma comida e um abrigo pela estação das chuvas então está tudo bem e se calhar (muito provavelmente) quem nos vai "salvar" são esses mesmos, ignorar o que a expressão "casa" significa por isso ser agora tão mais relativo, declarar a subjectividade de tudo, não só de mesmo muita coisa que dizia depender do ponto de vista mas de tudo o que existe tanto de material como de abstracto. E havia tanto mais que podia dizer aqui, tornar-se-ia se é que não se tornou já, exaustivo por isso paramos neste ponto apenas.
Sim, estou aqui há "apenas" dois meses.
E vemo-nos em Dezembro, então, por um bocadinho, que depois logo volto.

16.10.11

É proibido ter animais de estimação


E se não forem de estimação? Oh, também, pobrezitos, eles andam sempre por aqui, se nós não os começarmos a estimar podemos acabar rabugentos com as suas presenças na altura de tomar banho. Os caranguejos andam por ai pela montanha, não sei como é que os há aqui, mas pronto. Havia um que insistia em voltar aqui para o quarto do lado, a Tanvi chamou-lhe Eric, era engraçado, o sujeito, andava sempre a fazer sapateado por baixo das camas. Quando as chuvas pararem (isto é, quando pararem mesmo visto que continuam, não oficialmente mas pronto), os sapos que adoram a nossa piscina e os outros sítios todos também vão progressivamente sendo substituidos por cobras, segundo dizem. Avistei a primeira no outro dia, perto da caf., talvez procurasse comida. Temos mosquitos com capacidades especiais, ninjas que são, tem o dobro do tamanho dos de Deli, pelas afirmações dos nativos da cidade. Sabem a forma como os mosquitos costumam ser um ponto preto com asas? Aqui não, aqui dá para lhe estudarmos a anatomia completa a olho nu. Cães, também há. Há a Tikka, do Parog (lembram-se do Hagrid em casa do qual foi cozinhado um pastel de nata épico?, é esse). A Tikka está sempre em todo lado e toda a gente gosta da Tikka. Depois, há os vagabundos que gostam de vasculhar os nossos caixotes do lixo pela noite e que cheiram um bocado mal o que não torna nada interessante a experiência deles virem ter connosco quando estamos a ter aulas de filosofia ao ar livre para aproveitar o sol. Mas não são os cães que nos guardam as portas, não. Temos no pátio uma ratazana que é quase do tamanho de... Bem, é mesmo muito grande, se não fosse tão nojenta seria confundida com um gato gordo. Vão entrando sapos pequenitos aqui e ali, nas casas de banho onde formam comunidade com lagartas, no quarto onde fazem inveja a coisas voadoras como libelinhas do tamanho da minha mão que se tem de contentar com salas de aula apenas. O senhor da fotografia a cima é que esta noite guardava a entrada de casa. Perigo, é venenoso. Cuidado com o sapo. Vamos arranjar uma placa e colocar aqui algures.
Podemos chamar-lhe Kermit, Tanvi? (A Tanvi é a consultora dos nomes de animais, mas depois acha que Eric é um nome que fica bem a tudo, ou então Erica, também dá, esse).
Hum...Não, devia ser Orange Kermit. Because it's orange, you see.
Tudo bem.
O Kermit original é mais giro que essa coisa, dizem as opiniões de menos de metro e meio da Ting da china (que se lê ing ou coisa assim, agora não faz diferença que ela desistiu de ensinar a quem quer que fosse que ninguém consegue de qualquer modo)
O Parikshit (sim, há pessoas com nomes estranhos, de facto) passa por aqui a caminho da sua casa e vem observar a criatura.
Chama-se Orange Kermit!
Uau, a sério? Como é que sabem?
... Não é um nome cientifico, lamento. (mas olhem que era giro que fosse, sabia os nomes científicos das criaturas todas se fossem assim!)
Não digam que não é lindo, o nosso porteiro. (Mas não lhe toquem que pode correr mal.)

15.10.11

Apaguem as luzes!

A EPA (environmental protection agency) de MUWCI, composta por alunos e pela Sindhu, que anda sempre por ai a salvar animais feridos e a salvar cobras que os alunos se calhar achavam melhor aniquilar, espalharam estas preciosidades pelas casas de banho de todas as casas. Seja para que tipo de pessoas eles for, porque aqui há de todas, isto, para alunos desta faixa etária, tinha de ser publicado aqui como exemplo do que é publicidade eficiente. Porque agora é muito mais raro encontrar aquelas luzes acesas, acreditem.



9.10.11

Pais e filhos

A mãe e o tio do professor de espanhol, Pablito, estão de visita, jantar latino esta noite para os que desses países são naturais e que tem esses dois sujeitos como presença, para variar um pouco . Muita coisa está suja no fim da refeição para a qual todos contribuem e partilham. Limpar minimamente as coisas, também em conjunto. Mas a toalha está cheia de nódoas (havia chouriço, como é que era suposto haver controlo perante tal acontecimento?). Oh, Pablo, desculpa, sujamos-te a toalha toda . E a mãezinha do Pablo diz: Não se preocupem. Pablo, eu lavo te a toalha.
Em coro, porque aqui estas pequenas coisas são vistas de uma forma diferente, as palavras ecoam em redor daquela frase:
Ohhh, que querida!
Aiii, nossa, agora fiquei com saudade da minha mãe também. (Portugês do outro lado do mar da Sofia).
A minha mãe também diria isso, ena, isto agora não vale, Pablo, é batota.
Pois é, chicos, os professores também tem pais.
O espírito é relaxado, ninguém quer saber de andar com roupa manchada por causa de umas calças pretas em modo turbo, ou que foi demolhada em lama e não se conseguiu livrar dos vestígios, ou que se viu cor-de-rosa com o Ganesh, ou ficou rota a trepar um telhado ou por causa de algum precalço pela reserva de biodiversidade, ou seja o que for, qualquer coisa serve. A dúvida que foi levantada e que por vezes passa pela mente é se isso é só parte do espírito ou se caso as mães ou pais ou avós ou o que seja estivessem aqui para dizer que há um truque qualquer para isso e para fazer aquela cara torcida porque "não andes tão despenteada" ou "já viste, estás cheia de nódoas" seria de outro modo.


Como já falei de coisas portuguesas do outro português, do outro lado do mar, mais influências musicais da Sofia, e a canção que dá título a este post,


" (...) Sou uma gota d'água,
sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não te entendem,
Mas você não entende seus pais.

Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
São crianças como você (...)"





2.10.11

Porque quem lê este blog pode pensar que aqui não se trabalha

Está errado, muito errado. As aulas são, na sua maioria, claro, não podiam ser todas, bastante interessantes pela forma como os assuntos são abordados e o trabalho já se nota, apesar dos segundos anos reclamarem sempre que nos queixamos porque "Eu odiava tanto quando me diziam isto mas estes primeiros anos não sabem mesmo ainda o que é a vida." Mas como deve ser calculável, mesmo existindo coisas muito marcáveis e distintas, dignas de serem mencionadas, isso não as torna um tema mais apelativo pondo as coisas em perspectiva, quer dizer, numa conversa qualquer, apetece mais falar da quantidade de exercícios que tenho para fazer para a próxima aula que é provavelmente no dia seguinte ou de outras coisas, que podem ser menos importantes a nível curricular mas que ajudam a descontrair?

"Não me apetece nada fazer isto. Tanvi, como minha companheira de casa, tens a missão de me dar um discurso de motivação."
"Hum..."
"Estou à espera..."
"Bem, se tu não fizeres os trabalhos de casa vais chumbar no IB e depois vais ter de voltar para Portugal e depois não vais ter uma educação e depois não vais ter um emprego e depois não vais ter dinheiro e depois não vais ter comida e depois morres."
"Ena, obrigada."
(se repararam nisso, foi interessante a ligação de voltar para Portugal, não ter educação e não ter emprego, não foi?) (Por falar em coisas de motivação, Cristina, tu não me deves um crepe? Está tudo arrumado!)

E depois, com estes incentivos, num sábado de manhã acorda-se mais cedo do que seria de esperar para ir para a casa-da-árvore por trás da wada 3 fazer trabalhos de casa de matemática e escrever ensaios filosóficos acompanhados de música e copos de café com mel e leite que foram raptados do pequeno-almoço (estas dicas italianas ajudam mesmo quando não se gosta de café mas se está prestes a adormecer e por isso tem mesmo de ser).


Porque de qualquer forma, o resto do fim-de-semana terá de ser passado com projectos de grupo que são interessantes mas trabalhosos para inglês e para teatro. Decidimos também, depois da aula de onde provém o pequenino excerto no vídeo abaixo que vamos começar a filmar tudo o que apresentamos nessas fantásticas aulas pelos peculiares resultados que são criados. Até agora, não contando as muitas pequenas e ao mesmo tempo grandes experiências que fizemos para a disciplina, fizemos os prólogos a dois espetáculos de artistas convidados com quem tivemos workshops, de destacar o de Kathak, dança tradicional indiana particularmente do estado Maharastra onde estamos situados. Neste Domingo começaram os preparativos daquela que é preparada por todos mas em especial por quem tem a disciplina, a nossa theatre season, ciclo de produções inteiramente de alunos, com textos que podem ser de origem ou adaptados, e com uma equipa inteiramente pertencente à nossa comunidade. Depois da recolha de guiões para selecção foi o segundo passo, as entrevistas para selecionar directores e peças a apresentar nessa época, durante todo quase todo o dia hoje. 



(sim, isto não está aqui completo, mas se estivesse, por um lado, ia demorar séculos a carregar com esta internet, por outro, não é assim tão gira a parte em que falha a luz, coisa que aqui acontece diversas vezes ao dia e que pode ser bom à noite, para ver as estrelas, mas é extremamente inconveniente para este tipo de actuação, sendo que tudo se torna um pouco mais estranho e pelo meio se ouve "What the fuck?!")

Já agora, para quem é curioso e gosta de saber ou para alguém que possa vir a assistir a algum espetáculo por estes lados do globo, não devem ter os pés direcionados aos artistas pois é considerado desrespeitoso.


Este post também é para agradecer ao Edgar e à Iolanda, pela forma como, numa tarde que foi passada a cozinhar, olharam para mim quando eu disse que ainda estava indecisa em relação à escolha de algumas disciplinas, porque, "Joana, és parva? tu tens que escolher teatro." Foi uma bom conselho, definitivamente.