30.9.11

As monções acabaram (oficialmente!)


"One day it started raining and it didnt quit for 4 months
we've been through every kind of rain there is
a little bit of stinging rain
and big ol fat rain
rain that flew in sideways
and sometimes rain seemed to come straight up from underneath
(...)
One day, we were out walking as allways
and then
just like that
 somebody turned off the rain and the sun came out"



São dados oficiais porque já dá para secar a roupa ao sol e hoje, depois do falso aviso de ontem que despertou pessoas de propósito mais cedo coisa que não seria feita de tanto ânimo para ir à primeira aula porque "Não digas que fui eu que te disse mas amanhã às 7 a piscina abre, passa a palavra", a piscina de facto abriu. Para comemorar, também choveu só mais um bocadinho, o suficiente para não deixar os fatos de banho secarem mas com promessas de que não se virá a repetir tão cedo.

26.9.11

BomBaím - pormenores excessivos e muitas fotos de um fim de semana prolongado


 Anteriormente Bombaim por ser uma boa baía, hoje Mumbai, a maior parte das pessoas não liga à distinção e qualquer nome vai lá dar, com alguns dos seus prédios da zona onde estive a fazerem lembrar a parte antiga de Lisboa (como a casa da prima e madrinha, madrinha porque pode ralhar) . (Eu já sabia, António, mas aproveito para agradecer a receita chinesa :b). No fim das aulas, depois de almoço, todos a acabarem de fazer as malas. Os destinos foram vários, mas sendo que o número de alunos que para lá se dirigia era significativo alugou-se um autocarro para a ida, foram 6 horitas (nada aborrecido, principalmente com duas raparigas a falar norueguês ao lado, foi um instante a parte em que fui a dormir). As vistas sempre davam para distrair.



Os camiões indianos tem, na sua grande maioria, sempre adornos que vão de “goods carrier”, na frente, a “Horn OK Please”, na traseira, porque de facto é uma fantástica dica de educação no trânsito, buzina-se e está feito, não há por aqui acidentes. 


(e são limpinhos)


Já chegados à grande, se bem que grande é uma palavra pequena demais para exprimir aquilo, cidade, fomos para a área de Colaba, onde depois de um, está tudo cheio, dois, não barato o suficiente, três, meia hora a negociar e lá nos instalámos no "hotel voga" que como todos os outros também indicavam era "a nice place to stay".


Tínhamos ventoinhas, já era bom, duches comuns para todos com um esquentador que, cheio de ferrugem e com um ar velhinho ninguém ousou tentar ligar a medo de explodir com aquilo tudo. Não havia lençóis mas estava muito calor de qualquer modo e a almofada era fofinha, por isso porquê pedir mais?


A localização pelo menos, era excepcional, apesar da vista do nosso terceiro andar não deixar ver. A dois passos do Hotel Taj Mahal (o Taj Mahal fica mesmo extremamente longe desta zona, mas o hotel em si é um monumento, tanto pela beleza do edifício em si como pelo atentado que lá ocorreu em Novembro de 2008) e da vista da frente do mesmo, o Gateway of India. 



Alguém disse algures no tempo “olhem que ter amigos entre os nativos dá jeito”. Dar jeito é pouco, a sério. Olha, ao que parece o Gaurav vai para a mesma zona que nós, e boleia com o motorista, sim? Isto ainda é pouco. Por mais ridículo que até possa soar, todos os cinco que meio porque estava combinado e meio por coincidência, acabamos juntos, eu, a Katharina e os segundos anos Avaneesh, indiano de Calcutá, Maria Victoria, Venezuela, e Max, U.S.A., concordamos quando relembramos que um dos melhores momentos foi  depois de uma manhã passada a escolher e negociar livros. 



O pai do Gaurav quis nos oferecer o almoço. Lembrei-me do trabalho de filosofia, a felicidade paradoxal, da parte em que é explicado que o prazer vem da ausência de conforto, dai o conforto ser um bem que devemos evitar pois traz apenas um tipo de felicidade que é, de certo modo, menos pura. Isto resume-se em, entre sorrisos envergonhados, a tentar comer devagarinho para não parecermos estranhos, foi para ai uma das, se não mesmo a melhor refeição que tivemos desde que chegamos (à Índia em si), fomos a um restaurante chinês e o senhor teve a generosidade de gastar ali qualquer coisa que deveria ser superior ao nosso orçamento para o fim-de-semana inteiro e ainda perguntava porque é que estávamos a partilhar sobremesas se podíamos ter pedido uma por cada. Vou conseguir soar mais estranha ainda mas, no restaurante em causa, as casas de banho tinham papel higiénico. E sim, isso é algo de muito exclusivo, na maior parte dos sitos há uma mini mangueira e pronto, querem mais que isso, vão equipados, andem com o rolo na mochila (engraçado, havia uma altura em que a ESFRL também era assim, excepto a parte de não ter a mini mangueira).


Não há fotos disso mas por falar em comestíveis, alguém está com vontade de ver algo extremamente nojento, isto é, algo muito tradicional e de uma relevância cultural imensa? Esta bebida leva gelado, maracujá, massa (sim, como em esparguete) e não sei (acho que não quero saber) mais o quê. (Se for comparado, aquele sumo de ananás que eu pedi era o paraíso. Aliás, acho que nem é preciso comparar, e nem é uma coisa boa de se fazer, mas o sumo e outros batidos de fruta que se encontram praticamente em todo o lado são todos maravilhosos.)


Sábado, depois de correr mercados e ruas inundadas não de chuva, que essa já é quase inexistente, mas de pessoas, jantou-se os restos da comida chinesa (pois é, mais pontos para ai, veio com bónus), e jogou-se um jogo alemão de dados cujo objectivo é angariar minhocas. "Porque é que de repente é tão importante na minha vida ter muitas minhocas?"


Domingo, fomos de barco à ilha de Elephanta, onde há caves hindus.


"Oh, não podemos tirar fotografias (...) Olha, estão ali indianos a tirar fotografias." 
"A sério, nós estamos na Índia, achas mesmo que alguém se importa que aquilo esteja ali?"


Pormenor dentro de uma das caves. Em todas estavam esculpidos diversos ídolos representando algumas cenas de lendas e histórias hindus.


Sim, isto ainda é na ilha de Elephanta. Porque de facto as caves eram muito interessantes, mas é mais divertido ver quando os macacos roubam turistas e depois ficam imenso tempo a tentar perceber como raio se abre uma sprite. (Ele conseguiu.)



Nessa noite fomos para a praia e pudemos experimentar a água que à falta de luar não deu para entender a cor, talvez até tenha sido melhor. A multidão era mais uma vez evidente, tal como as imensas coisas que estavam a ser vendidas. A água era quentinha e as calças de ganga não se chatearam nada que eu as molhasse todas. Apesar de sermos nós os turistas, ali, fomos a atracção turistica. Ao que parece, não andam muitas pessoas loiras ou pseudo loiras por aqueles lados pelo que "Podemos tirar uma foto com vocês?" foi repetido algumas vezes, desde as que tinha piada até se tornar irritante e decidirmos ir embora. Ir de táxi ficou caro, isto é, caro para standards indianos, vamos antes de autocarro agora. Ok, primeiro autocarro, deixam nos em algum lado porque afinal temos que apanhar outro. 


Se estiverem homens sentados naqueles lugares e existirem mulheres sem sítio, tem de ceder o deles. Bastante agradável depois de um dia a andar ao sol e num autocarro atulhado de pessoas. 

Meia hora na paragem, nada acontecia. Os carros iam passando enquanto o Avaneesh ia traduzindo propaganda católica em hindi e que era comentada cépticamente, ou porque aquilo não fazia sentido ou porque segundo a Maria Victoria já tinha era coisas indianas demais à mistura. Os ponteiros do relógio a rodar e as ruas ainda com transito. "É por isso que chamam a isto a cidade que nunca dorme." "Mas dorme, às 3 da manhã já está tudo fechado e não anda ninguém na rua." "Sim, mas a essa hora como está toda a gente a dormir ninguém repara."
O tempo a passar. A passar.
"Espera, disseste que o nosso autocarro vinha a que horas mesmo?"
"Não tem horários os autocarros aqui, vão passando."
Se calhar este não passa, e os rickshaws não nos querem levar porque Colaba é muito longe. Pronto, um senhor indiano lá ajudou, apanham um comboio local e depois (de uma hora de comboio) quando chegarem apanham um táxi. 


(pormenor da estação de comboio)


Isto foi demorado. Agora, o que fazer na última noite de exeat quando já chegámos tarde e no dia seguinte o plano é sair cedo para apanhar o primeiro comboio de volta?
Não, a resposta não é dormir. Mas a pergunta também era outra, eu é que me enganei.
A pergunta mesmo é - O que é que estão a fazer 5 alunos UWC deitados uns em cima dos outros numa cama de casal? E porque é que isso é tão divertido?
Não, a resposta não é dormir. A resposta é: estão a resolver adivinhas palermas (como por exemplo, o que é amarelo por dentro e preto por fora? um frango ninja, ou o que é que está molhado em dias de sol, e molhado em dias de chuva, molhado quando sai à rua e quando fica dentro de casa? a língua, mas o Max quis provar que isso estava errado e decidiu ficar com a língua de fora durante muito tempo, mesmo, mesmo muito tempo, tanto que conseguiu). E ainda, a descobrir métodos inovadores de massagens. "Ai, as costas da Joana são o sítio mais confortável de sempre, ri-te lá outra vez. Isto parece uma cama vibratória, a sério, vocês tem que experimentar." "Uau, ainda por cima é grátis." "Olhem que eu encontrei duas rúpias em cima da cama." "É justo." (Duas rúpias não valem nada, de facto, mas não digam que os UWC não abrem um mundo de oportunidades e nos fazem descobrir as nossas potencialidades porque depois disto eu já posso trabalhar durante o verão, e quem sabe se isto não se vai tornar em algo a escala mundial - venha deitar as suas costas nas costas da Joana, diga uma piada estúpida, e delicie-se com a sensação.)
À mistura com outras adivinhas e enigmas e jogos com resultados nunca antes imaginados, como o jogo de acrescentar "If you know what I mean" a tudo o que se diz, isto durou tanto que o horário de sono foi muito limitado. 
E ás 8, o que é que aqui está aberto para pequeno almoço? McDonalds. Informação inédita que a maior parte das pessoas achará escusada mas que esses seres muitos exclusivos e especiais que cohabitaram comigo nos últimos anos vão entender: há aqui McDelivery. A quantidade de vezes em que à falta de jantar ou de vontade para o fazer comíamos pizza ou frango porque a resposta a ir ao Mc era sempre que não apetece tirar o carro. O quão útil isto tinha sido. 

Mais questões sobre transportes, os táxis não nos querem levar, somos 5 e para a estação central passa-se pela polícia por isso não é boa ideia. Vamos a pé, nós e as nossas mochilas gigantes. 


(estação central de Mumbai)


Olhem, afinal este comboio só vem daqui a 3 horas, vamos antes apanhar um comboio local até à estação mais perto da paragem dos autocarros, andar mais um bocado até lá, e depois apanhar um autocarro que demora mais mas sai antes. Afinal compensou, mais uma viagem a dormir, depois mais outros dois autocarros de Pune a Paud onde almoçamos por ser tarde demais para haver comida na escola, e depois um jipe de Paud até ao sítio ao qual soube tão bem voltar, por ser o que menos se afasta da definição de casa que temos, onde felizes revimos caras que por encontrarmos permanentemente já estranhávamos a falta.



22.9.11

Actualizações digitais rápidas (ou conjunto de links para quem não tem que fazer)

O conselho internacional decidiu uniformizar o layout dos sites UWC e por isso está tudo mais bonitinho e actualizado, com fotos e notícias recentes.

Associação portuguesa:
http://pt.uwc.org/
(e olha eu ali :P http://pt.uwc.org/vida-uwc/estudantes-actuais/joana-santos )

MUWCI
http://www.uwcmahindracollege.org/

Entretanto, nas muitas coisas que temos independentes do conselho internacional e das decisões deles de por exemplo de nos chamar UWCMC (tentem lá dizer isto, não soa bem, pois não? ao que parece há uma empresa japonesa registada como muwci então isto dava-lhes alguns problemas...),

Blog de notícias mensais
http://muwcimonthly.blogspot.com/ (vídeos de fotos recentes na barra da direita)
e destaque para: http://muwcimonthly.blogspot.com/2011/08/you-know-youre-in-muwci-when.html#more

e o nosso fantástico MUWCI TV
http://www.muwci.tv/ Hilltop updates ao abrir a página, o noticiário mais fixe de sempre (destaque para o boletim metereológico do Constatin e a análise "científica" do Will que compara a fisionomia de macaco os dois candidatos mais fortes a futuro director, que virá em Janeiro. Ah, e não deixei de ver o grande final do Pramod, por favor.)
Para quem não tiver mesmo nada que fazer, ou quiser simplesmente procrastinar, o nosso film club tem actualizado a página e algures nesse link já está o show dos segundos anos da semana de orientação (minuto 3 da parte 1 com a mítica cena de lavagem dos dentes, meio da parte 9 com Portugal a ser representado pelo Ricardo a cantar Pearl Jam e muito boa música, dança, e comédia pelo meio disso tudo.)



De tempos a tempos temos marcados exeats, ou seja, fins-de-semana prolongados durante os quais podemos viajar por ai fora. Este próximo é o primeiro. Destino? Mumbai, umas quantas horas de autocarro e a cidade mais populosa da índia, segunda cidade mais populosa do mundo, com os seus 14 milhões de habitantes (coisa pouca, tendo Portugal o número de pessoas que tem, espalhadas por toda a sua extensão e concentradas em cidades que se calhar diríamos que "até são granditas").

21.9.11

Sobre centímetros,

Vantagem de se viver numa comunidade com um nível de multiculturalismo tão grande como muwci: pelos vistos há países onde a altura média é bastante reduzida. Ou pelo menos assim parece, pela amostra que se tem de alunos que aqui estão. Resumindo, eu, sem ter crescido um centímetro que seja, até tenho uma altura bastante normal e não sou considerada (assim tão) pequena o que nunca tinha acontecido antes, acho eu. As pessoas asiáticas dão tanto jeito nestas coisas. (Agora, não vamos é comparar as diferenças que se podem ver em coisas como resultados de testes na área da ciência/matemática e a jogar ping pong, não virá nada de assim tão interessante tirando o facto dos níveis de dificuldade se dividirem mesmo muito claramente em easy, medium, hard, asian.)

(Isto é tendo em conta a média apenas e ignorando coisas como a altura colossal do meu segundo ano e de mais alguns outros gigantes.)

(E sim, se alguém ficou a pensar nisso, os asiático que dão grandes espétaculos a jogar ping pong não estão só no youtube. Torneio de ping pong, na folha de inscrições escrito a letras gigantes: MONSOO [Coreia do Sul] IS NOT ALLOWED.)

17.9.11

Digestão e o típico "Indian nod"

Atenção, pessoa que está a ler isto poque este texto vai ser extremamente (in)útil!

Cada casa tem dois quartos em geral de quatro pessoas, assim, para além de roommates temos housemates que dão imenso jeito para coisas como "Emprestas-me a tua panela?" ou sessões de gastronomia internacional que envolvem uma coisa indiana estranha (espera, talvez isso seja porque todas as sessões de seja o que fora envolvem coisas indianas estranhas à mistura) e  biscoitos japoneses. Entrando um pouco em detalhes, há a Tanvi, indiana, que é frequente ser vista a entrar em casa toda encharcada e com um sorriso gigante dizer qualquer coisa como "acabei de correr 10 km!". Também toca guitarra e com a sua inclinação para música menos recente grita "Ohhh, that is so epic!" quando se fala do rato Gerald ("he's getting rather old but he's a good mouse"). No entanto, o que é igualmente engraçado de presenciar é sempre que se chega a casa ou se passa por ela em horário pós-refeição ela está a digerir (ver imagem do link) porque "eu acho que da mesma forma que nós apreciamos comer podemos também apreciar digerir e assim nesta posição bloqueamos o sangue que vai para as pernas e pés e concentramo-nos na digestão em si."
Esta noite, na habitual sessão diária que pode ser à noite ou à tarde de "eish, estamos com fome, vamos juntarmo-nos algures sentadas no chão a comer o que alguém tiver para partilhar", eu não estava propriamente a comer com a Katharina e a Tanvi porque por vezes a comida indiana tem uma forma de deixar o estômago um bocadinho (só mesmo um bocadinho) às voltas de modo que a vontade não era muita. Sugestão da Tanvi: faz a digestão. Pronto, está bem. Sentadas, a comer coisas estranhas e a fazer a digestão a conversa parou noutra coisa: o indian nod. O indian nod é a forma como os indianos abanam todos a cabeça a falar (ver este vídeo, e sim, eles fazem isso, constantemente). Eles também não se apercebem disso até virem para aqui e constatarem que mais ninguém abana assim a cabeça. Toda a gente questiona: afinal, porque raio é que vocês fazem isso? A Katharina diz que parece significar o seguinte "Yeah...Sure...Whatever...Fuck you."
Isto provocou uma explosão de riso que terminou com lágrimas nos olhos e comigo deitada no chão, pelo que a Tanvi disse "Oh Joana! Agora o sangue voltou para os teus pés!"

(Depois disso, e de nos rirmos um bocado mais... bastante mais, e de falarmos sobre a comida que marca a antiga presença de Portugal na Índia: caril e chamuças - caril também se chama masala porque afinal tudo o que é uma mistura de especiarias é chamado de masala e as chamuças são mais comummente recheadas com batata apenas e chamadas de samosas - a Tanvi também partilhou a informação de que naquele bocado tinha dito mais vezes fuck do que na vida toda dela e "Cá para mim são más influências dos colonizadores" "É? Só por causa das más influências, fuck off.")

Acho que se não estivesse com tanto sono ainda me estava a rir. 

15.9.11

Mas não, ninguém aqui cheira mal dos pés.

De entre as muitas questões, umas esperadas e outras mais estranhas que me fizeram na entrevista, o Jónatas perguntou-me o que eu faria se uma das minhas companheiras de quarto cheirasse a chulé. Bem, não há cá disso, será mais detectável um odor esquisito a coisas húmidas que durante esta estação se estende... a tudo. Mas tenho uma coisa muito mais interessante, Katharina, uma das minhas roomies, a alemã que viveu na Noruega desde os 5 anos e que veio enviada desse comité nacional, de vez em quando fala enquanto dorme. Tenho mesmo de arranjar um dicionário tanto de alemão como norueguês (vai variando). Não incomoda ninguém, olhem que se cheirasse mal dos pés se calhar era pior, tem só a sua graça isto. 

13.9.11

Questões linguísticas

Há uma rapariga vietnamita chamada Hai. Interessante a introdução "Ai, Ai'm Hai" "Ai Hai! Ai'm Joana"
Depois há a Pá. Não sei como é que isto se escreve mas teve a sua piada explicar-lhe o que é uma pá no sítio de onde eu venho (aquele sítio que agora está lá longe.)
Na Alice no país das maravilhas há o Tweddle Dim e o Tweddle Dum que, ao fim e ao cabo, nunca ninguém sabe distinguir. Aqui temos as chinesas Ting e Xing. São bastante diferentes mas parece que Ting se pronúncia Ing e Xing se pronuncia Ing. Ou coisa parecida. Bem, seja como for, elas dizem que é diferente mas como eu continuo a não conseguir pronunciar nenhum dos dois como é suposto ser em chinês então Ing resulta sempre seja para uma ou para a outra.
Descobri que exite uma montanha de formas gigantesca de dizer o meu nome, exemplos:
Xuana
Jõãnãn
Ruana
Ióana
Róana
Xouana
Jóhána
Também já expliquei a algumas pessoas que o meu diminutivo em português significa Joaninha pelo que alguns me tratam assim, ou melhor, pela versão mais próxima que conseguem desse nosso nh (a mesma versão da Melisa :P), Joanina.
Outra coisa interessante é o facto de eu ser a única aqui que consegue dizer Ricardo e explicar que isso é um nome bastante comum em Portugal, sim, Rrrrrrrricárdu é uma coisa normal e fácil de dizer.

Entretanto aprendi um trava línguas em vietnamita que se pronúncia mais ou menos como isto: noi dam nau up noi dát nau aic que, como a maior parte dos trava línguas, tem um significado um pouco... insignificante: cozinha cobras num sítio castanho e cozinha sapos num pote de barro. (uau, isto faz me querer tão loucamente experimentar gastronomia do Vietname.) 

Introdução a "Coisas pequeninas" (não, não me vou apresentar)

Tendo em conta que as rotinas começam a ser criadas e não vou propriamente descrever os meus dias porque - ena, foi terça-feira, tive aulas, e depois tive actividades e... pois. Isto é, não é que os dias aqui não sejam interessantes mas acho que isso não teria importância nenhuma nem para mim nem para quem ler isto. Assim, até por ter mais trabalho, vou escrevendo "Coisas pequeninas" que podem ser algo sobre um tema, algo que aprendi (que esteja um bocado fora do que seria de esperar que eu aprendesse se estivesse em Portugal, como é calculável), algum momento específico, não sei, mas são coisas que podem ser de maior ou menor relevância e podem limitar-se mesmo a uma frase só mas que fazem com que isto continue a ter qualquer coisa de novo com frequência e que eu não perca muito tempo quando devia estar a fazer algum trabalho ou coisa parecida (seja o que for, aqui há sempre alguma coisa para fazer, e este sempre significa sempre mesmo.) Claro que sempre que forem surgindo acontecimentos mais fora do que é este dia-a-dia que vai sendo fabricado (que surgirão muitas, não tenho margem de dúvida), também vou tentando actualizar o blog de acordo com isso.

Já agora, para quem começa ou começou entretanto as aulas - divirtam-se. Ah, e as minhas aulas, salvo umas pequenas excepções, são de 50 minutos. Pronto, sim, isto foi mesmo só para vos chatear, peço desculpa.

Mandei-vos agora um beijinho daqui, de 806984431 centímetros de distância, pelo ar, quem apanhar primeiro pode ficar com ele. Pronto, também não é preciso lutarem, eu mandei mais alguns entretanto, chega para todos, podem pensar e ver a que velocidade eles andam quando chegarem ai.

8.9.11


Tudo isto é novo,
Sem sentido para mim.
Sei que há tanto para aprender,
Está tudo aqui, mas onde está?
Ai é assim que eu sou para os outros,
Agora sei que há mais do que eu pensava.
Vá diz me lá, vem mostrar-me,
Vou saber tudo destes estranhos como eu,
Diz me mais, mais coisas,
Eu vou jurar que tem algo de meu. 

6.9.11

Coisas insólitas que acontecem por aqui

Regra # 1 dos college meetings (pseudo assembleias semanais com todos os professores e alunos onde são dadas informações e por vezes debatidos assuntos que dizem respeito a todos) Mesmo que um bocado do tecto tenha acabado de cair por causa da humidade, começamos a bater palmas porque pronto, não vamos para aqui dizer "oooh" só porque caiu um bocado de tecto, isso seria previsível, ou preocuparmo-nos muito com isso, também era de esperar, agora bater palmas é muito mais giro e original.
Pensando melhor, isso não se aplica só aos college meetings ou a quando cai um bocado de tecto (vá, só aconteceu uma vez e ninguém se magoou porque o bocado em causa estava um bocado... ensopado demais para magoar alguém), bater palmas por tudo é uma regra sempre aplicável.

Continuando com "coisas insólitas que acontecem por aqui" ou melhor, deveria ser antes "coisas que acontecem por aqui que podem não ser tão insólitas quanto isso mas vou usar a palavra na mesma para ver se alguém se sente motivado a ler isto." (ah, bolas, agora vocês já sabem o truque.)


La vie en rose,






 Não tenho grandes dúvidas que bater palmas por tudo e por nada seja comum nos outros UWCs mas, há uma coisa que aposto que mais nenhum tem. A Índia, Um país onde há deuses-elefantes e onde para celebrar o seu aniversário são feitas figuras desse mesmo deus e juntamente com oferendas é tudo levado e deitado para o rio. E para celebrar, pó cor-de-rosa e muita música na ambulância do colégio até chegar à vila com um Ganesh que desceu a colina connosco numa caixa aberta atrelada num tractor. Estes transportes também vieram muito mais cheios do que supostamente era possível ao voltar de novo para cima, todos molhados, coloridos e cansados do caminho já feito até ali, há sempre lugar para mais alguém. (Menos nos chuveiros, quem quer chuveiros em dias destes é melhor correr muito. E olhem que já pode nem haver - como é a situação da nossa casinha Nº 5 - água quente.)


Já agora, falei de música para celebrar. Seja qual for a festa, não há hit com mais sucesso que a Sheila Ki Jawaani


(e depois isto começa a ficar mesmo no ouvido)

2.9.11

A Lusofonia faz bem ao estômago


A lusofonia faz bem ao estômago se só comemos arroz com coisas há alguns dias, pode ser usada por exemplo como desculpa para organizar refeições que metade são “vamos lá cozinhas algo tradicional” e a outra metade são “se calhar é melhor inventar antes qualquer coisita”. 
Tivemos jantar na terça-feira, somos 4, eu e o Ricardo de Portugal, a Ranne e a Sofia do Brasil. A ideia era fazer pasteis de nata com a receita que tirei já não sei de onde mas que alguém tinha a certeza que era boa. 
Primeiro, arranjar os ingredientes, a parte interessante que levou mais de uma hora. Supostamente, só temos de ir à coffe shop do colégio, pedir os ingredientes, pagamos lá e depois vamos buscar à caf. Agora, o problema foi explicar ao indiano que trabalha lá o que era massa folhada, depois de muito inventar, gesticular e demonstrar (com um croissant), ele disse para eu levar no momento o resto dos ingredientes e ir falar com o chef. Fui até à caf, pedi os ingredientes que já tinha comprado e explicar, mais uma vez, a uma homem para quem o inglês não é a língua materna nem propriamente dominada, o que raio é essa coisa fantástica de massa folhada. Depois de passar pelo momento em que achou que tinha percebido e me foi buscar alguma coisa que parecia salsa, lá conclui o que eu queria e disse que apesar de eles fazerem muitas tartes de legumes e tudo isso, a massa era caseira e deu-me por isso a receita de massa folhada. Voltei à coffe shop, comprei os novos ingredientes, fui buscar à caf, voltei para a sala comum da wada para começar. 
Sobrou uma quantidade gigante de massa folhada e como para os pasteis só são precisas gemas, misturamos as claras com a massa e chocolate em pó, inventando qualquer coisa que se veio a definir como “comestível mediante a cobertura com muita nutella”. Não havendo formas pequeninas, foi criado um senhor pastel muito muito grande numa forma de bolo. Não havendo forno foi invadida a casa do professor de matemática avançada para ai podermos terminar o jantar. A Sofia e a Ranne foram para a sala comum de outra Wada cozinhar massa com molho, queijo e chouriço (note-se que havendo chouriço é necessário andar a exibi-lo e a gritar “chouriço!” para mostrar o que é o orgulho na gastronomia portuguesa, cozinhando-o também quando estão pessoas por perto que entretanto, não indiferentes ao cheiro, dizem que queriam ser do nosso país, porque sim, isto acontece). Entretanto, eu e o Ricardo ficamos na casa do senhor que se isto fosse Hogwarts seria o Hagrid (quando arranjar uma foto esta comparação torna-se obvia), até bastante tarde porque primeiro o forno também não funcionava e depois, bem, parece que se um pastel de nata for do tamanho de um bolo demora muito a cozer, entretivemo-nos a jogar um jogo de lógica com as filhas do professor que devem ter uns 10 anos mas nos deram uma grande abada (hum, se calhar devia ter excluído essa parte). 
A massa era muita e o pastel acabou por ser guardado para a sobremesa do dia seguinte, em que chamamos as outras duas falantes da língua portuguesa do campus, Jennie (Suécia) e Emilie (Dinamarca), que viveram no Brasil por um período de tempo. 
Tudo isto vem acompanhado de música daquele lado do globo, um samba e entretanto já se dança para ajudar a digestão, e, da habitual discussão diária e constante - “O nosso português é muito melhor que o vosso”. (Que pode virar também em “Escravas, vocês é que são das colónias, trabalhem” relativamente às limpezas e outras tarefas que tais inerentes a jantar do tipo), são o tipo de conversas em que nunca chegamos a lado nenhum mas que adoramos ter, só porque pronto.


(yum, bolo de chocolate inventado com os restos do pastel de nata.) 


MUWCI style: sentados no chão, no pátio meio pingado pela chuva, 2 colheres de sopa, uma colher de sobremesa e outra coisa que nem sei bem o que era, um copo e uma caneca, uma panela de comida e estamos todos bem.