Anteriormente Bombaim por ser uma boa baía, hoje Mumbai, a maior parte das pessoas não liga à distinção e qualquer nome vai lá dar, com alguns dos seus prédios da zona onde estive a fazerem lembrar a parte antiga de Lisboa (como a casa da prima e madrinha, madrinha porque pode ralhar) . (Eu já sabia, António, mas aproveito para agradecer a receita chinesa :b). No fim das aulas, depois de almoço, todos a acabarem de fazer as malas. Os destinos foram vários, mas sendo que o número de alunos que para lá se dirigia era significativo alugou-se um autocarro para a ida, foram 6 horitas (nada aborrecido, principalmente com duas raparigas a falar norueguês ao lado, foi um instante a parte em que fui a dormir). As vistas sempre davam para distrair.
Os camiões indianos tem, na sua grande maioria, sempre adornos que vão de “goods carrier”, na frente, a “Horn OK Please”, na traseira, porque de facto é uma fantástica dica de educação no trânsito, buzina-se e está feito, não há por aqui acidentes.
(e são limpinhos)
Já chegados à grande, se bem que grande é uma palavra pequena demais para exprimir aquilo, cidade, fomos para a área de Colaba, onde depois de um, está tudo cheio, dois, não barato o suficiente, três, meia hora a negociar e lá nos instalámos no "hotel voga" que como todos os outros também indicavam era "a nice place to stay".
Tínhamos ventoinhas, já era bom, duches comuns para todos com um esquentador que, cheio de ferrugem e com um ar velhinho ninguém ousou tentar ligar a medo de explodir com aquilo tudo. Não havia lençóis mas estava muito calor de qualquer modo e a almofada era fofinha, por isso porquê pedir mais?
A localização pelo menos, era excepcional, apesar da vista do nosso terceiro andar não deixar ver. A dois passos do Hotel Taj Mahal (o Taj Mahal fica mesmo extremamente longe desta zona, mas o hotel em si é um monumento, tanto pela beleza do edifício em si como pelo atentado que lá ocorreu em Novembro de 2008) e da vista da frente do mesmo, o Gateway of India.
Alguém disse algures no tempo “olhem que ter amigos entre os nativos dá jeito”. Dar jeito é pouco, a sério. Olha, ao que parece o Gaurav vai para a mesma zona que nós, e boleia com o motorista, sim? Isto ainda é pouco. Por mais ridículo que até possa soar, todos os cinco que meio porque estava combinado e meio por coincidência, acabamos juntos, eu, a Katharina e os segundos anos Avaneesh, indiano de Calcutá, Maria Victoria, Venezuela, e Max, U.S.A., concordamos quando relembramos que um dos melhores momentos foi depois de uma manhã passada a escolher e negociar livros.
O pai do Gaurav quis nos oferecer o almoço. Lembrei-me do trabalho de filosofia, a felicidade paradoxal, da parte em que é explicado que o prazer vem da ausência de conforto, dai o conforto ser um bem que devemos evitar pois traz apenas um tipo de felicidade que é, de certo modo, menos pura. Isto resume-se em, entre sorrisos envergonhados, a tentar comer devagarinho para não parecermos estranhos, foi para ai uma das, se não mesmo a melhor refeição que tivemos desde que chegamos (à Índia em si), fomos a um restaurante chinês e o senhor teve a generosidade de gastar ali qualquer coisa que deveria ser superior ao nosso orçamento para o fim-de-semana inteiro e ainda perguntava porque é que estávamos a partilhar sobremesas se podíamos ter pedido uma por cada. Vou conseguir soar mais estranha ainda mas, no restaurante em causa, as casas de banho tinham papel higiénico. E sim, isso é algo de muito exclusivo, na maior parte dos sitos há uma mini mangueira e pronto, querem mais que isso, vão equipados, andem com o rolo na mochila (engraçado, havia uma altura em que a ESFRL também era assim, excepto a parte de não ter a mini mangueira).
Não há fotos disso mas por falar em comestíveis, alguém está com vontade de ver algo extremamente nojento, isto é, algo muito tradicional e de uma relevância cultural imensa? Esta bebida leva gelado, maracujá, massa (sim, como em esparguete) e não sei (acho que não quero saber) mais o quê. (Se for comparado, aquele sumo de ananás que eu pedi era o paraíso. Aliás, acho que nem é preciso comparar, e nem é uma coisa boa de se fazer, mas o sumo e outros batidos de fruta que se encontram praticamente em todo o lado são todos maravilhosos.)
Sábado, depois de correr mercados e ruas inundadas não de chuva, que essa já é quase inexistente, mas de pessoas, jantou-se os restos da comida chinesa (pois é, mais pontos para ai, veio com bónus), e jogou-se um jogo alemão de dados cujo objectivo é angariar minhocas. "Porque é que de repente é tão importante na minha vida ter muitas minhocas?"
Domingo, fomos de barco à ilha de Elephanta, onde há caves hindus.
"Oh, não podemos tirar fotografias (...) Olha, estão ali indianos a tirar fotografias."
"A sério, nós estamos na Índia, achas mesmo que alguém se importa que aquilo esteja ali?"
Pormenor dentro de uma das caves. Em todas estavam esculpidos diversos ídolos representando algumas cenas de lendas e histórias hindus.
Sim, isto ainda é na ilha de Elephanta. Porque de facto as caves eram muito interessantes, mas é mais divertido ver quando os macacos roubam turistas e depois ficam imenso tempo a tentar perceber como raio se abre uma sprite. (Ele conseguiu.)
Nessa noite fomos para a praia e pudemos experimentar a água que à falta de luar não deu para entender a cor, talvez até tenha sido melhor. A multidão era mais uma vez evidente, tal como as imensas coisas que estavam a ser vendidas. A água era quentinha e as calças de ganga não se chatearam nada que eu as molhasse todas. Apesar de sermos nós os turistas, ali, fomos a atracção turistica. Ao que parece, não andam muitas pessoas loiras ou pseudo loiras por aqueles lados pelo que "Podemos tirar uma foto com vocês?" foi repetido algumas vezes, desde as que tinha piada até se tornar irritante e decidirmos ir embora. Ir de táxi ficou caro, isto é, caro para standards indianos, vamos antes de autocarro agora. Ok, primeiro autocarro, deixam nos em algum lado porque afinal temos que apanhar outro.
Se estiverem homens sentados naqueles lugares e existirem mulheres sem sítio, tem de ceder o deles. Bastante agradável depois de um dia a andar ao sol e num autocarro atulhado de pessoas.
Meia hora na paragem, nada acontecia. Os carros iam passando enquanto o Avaneesh ia traduzindo propaganda católica em hindi e que era comentada cépticamente, ou porque aquilo não fazia sentido ou porque segundo a Maria Victoria já tinha era coisas indianas demais à mistura. Os ponteiros do relógio a rodar e as ruas ainda com transito. "É por isso que chamam a isto a cidade que nunca dorme." "Mas dorme, às 3 da manhã já está tudo fechado e não anda ninguém na rua." "Sim, mas a essa hora como está toda a gente a dormir ninguém repara."
O tempo a passar. A passar.
"Espera, disseste que o nosso autocarro vinha a que horas mesmo?"
"Não tem horários os autocarros aqui, vão passando."
Se calhar este não passa, e os rickshaws não nos querem levar porque Colaba é muito longe. Pronto, um senhor indiano lá ajudou, apanham um comboio local e depois (de uma hora de comboio) quando chegarem apanham um táxi.
(pormenor da estação de comboio)
Isto foi demorado. Agora, o que fazer na última noite de exeat quando já chegámos tarde e no dia seguinte o plano é sair cedo para apanhar o primeiro comboio de volta?
Não, a resposta não é dormir. Mas a pergunta também era outra, eu é que me enganei.
A pergunta mesmo é - O que é que estão a fazer 5 alunos UWC deitados uns em cima dos outros numa cama de casal? E porque é que isso é tão divertido?
Não, a resposta não é dormir. A resposta é: estão a resolver adivinhas palermas (como por exemplo, o que é amarelo por dentro e preto por fora? um frango ninja, ou o que é que está molhado em dias de sol, e molhado em dias de chuva, molhado quando sai à rua e quando fica dentro de casa? a língua, mas o Max quis provar que isso estava errado e decidiu ficar com a língua de fora durante muito tempo, mesmo, mesmo muito tempo, tanto que conseguiu). E ainda, a descobrir métodos inovadores de massagens. "Ai, as costas da Joana são o sítio mais confortável de sempre, ri-te lá outra vez. Isto parece uma cama vibratória, a sério, vocês tem que experimentar." "Uau, ainda por cima é grátis." "Olhem que eu encontrei duas rúpias em cima da cama." "É justo." (Duas rúpias não valem nada, de facto, mas não digam que os UWC não abrem um mundo de oportunidades e nos fazem descobrir as nossas potencialidades porque depois disto eu já posso trabalhar durante o verão, e quem sabe se isto não se vai tornar em algo a escala mundial - venha deitar as suas costas nas costas da Joana, diga uma piada estúpida, e delicie-se com a sensação.)
À mistura com outras adivinhas e enigmas e jogos com resultados nunca antes imaginados, como o jogo de acrescentar "If you know what I mean" a tudo o que se diz, isto durou tanto que o horário de sono foi muito limitado.
E ás 8, o que é que aqui está aberto para pequeno almoço? McDonalds. Informação inédita que a maior parte das pessoas achará escusada mas que esses seres muitos exclusivos e especiais que cohabitaram comigo nos últimos anos vão entender: há aqui McDelivery. A quantidade de vezes em que à falta de jantar ou de vontade para o fazer comíamos pizza ou frango porque a resposta a ir ao Mc era sempre que não apetece tirar o carro. O quão útil isto tinha sido.
Mais questões sobre transportes, os táxis não nos querem levar, somos 5 e para a estação central passa-se pela polícia por isso não é boa ideia. Vamos a pé, nós e as nossas mochilas gigantes.
(estação central de Mumbai)
Olhem, afinal este comboio só vem daqui a 3 horas, vamos antes apanhar um comboio local até à estação mais perto da paragem dos autocarros, andar mais um bocado até lá, e depois apanhar um autocarro que demora mais mas sai antes. Afinal compensou, mais uma viagem a dormir, depois mais outros dois autocarros de Pune a Paud onde almoçamos por ser tarde demais para haver comida na escola, e depois um jipe de Paud até ao sítio ao qual soube tão bem voltar, por ser o que menos se afasta da definição de casa que temos, onde felizes revimos caras que por encontrarmos permanentemente já estranhávamos a falta.